quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

pequenos detalhes, grandes revelações

Julianne Moore
dói-me o olhar condescendente com que quem se conforma à mediocridade olha para os que vivem fora das zonas de conforto estabelecidas como razoáveis. 
dói-me, fere-me. 
agride-me. 
entristece-me. 
indigna-me. 
quem nunca quis voar, ri-se das asas abertas de quem se aventura pelo céu. 
quem não ouve a música, não percebe a dança de quem a ouve e sente. 
irrita-me quem se julga maior virado para as paredes no seu ínfimo e insignificante cantinho pequenino. 
magoa-me o julgamento vindo de quem não é recto na sua conduta. 
faz-me ferver a ousadia de quem não sabe qual o seu lugar. 

é fácil apontar o dedo a quem vive sem querer saber dos padrões instituídos. é tarefa simples inferiorizar quem não se submete às regras, porque não se sabe viver fora delas e tudo o que está para lá do conhecido parece mais pequeno, por estar mais longe. 
mais alto. 
mais acima.
mais elevado.
maior, na verdade.

é estranho: não sou dessas que vive certinho, não gosto disso nem quero isso e nunca inferiorizei ninguém por preferir viver certinho. porque respeito a liberdade de escolha de cada um. 
quando gostamos, respeitamos. 
quando amamos, respeitamos. 
quando queremos bem, respeitamos. 
mesmo que discordemos. 
mesmo que não compreendamos. 

talvez seja inveja da coragem. dar o salto não é para qualquer um. 
talvez seja inveja da ausência de pena no olhar alheio sobre aqueles que ousam voar. viver de piedade representa menos esforço. 
talvez seja ignorância.

sei que em cada suave comparação há ataque.

sei que em cada mínimo laivo de condescendência se revela algo maior. 
sei que em cada leve olhar de condescendência se revela algo maior.

não sei se quero descobrir o que é.

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