terça-feira, 13 de março de 2018

A ética e a deontologia ficaram em casa.

Em casa ou no lixo. 

Assim de uma maneira muito simples para facilitar a compreensão de algum ignorante que por acaso venha a ler este post, vou ter cuidado com as palavras que escolho e simplificar ao máximo. 

O que se passa é o seguinte: é por causa de casos como este que a imagem ilustra que quando ainda era aluna do curso de Jornalismo, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, morria de vergonha na cadeira de Ética e Deontologia. A maioria dos casos apresentados como exemplo do que não deveríamos fazer vinham sempre de órgãos de Comunicação Social de Pombal ou de Leiria. Eram uma fonte tão rica de erros deste género, que o professor da disciplina em questão nem tinha que se esforçar muito para os encontrar. É por causa de casos como este que entre alunos era comum ridicularizar os órgãos regionais, onde mais tarde vim orgulhosamente a trabalhar. 

Esta notícia tem um título despudoradamente racista. E envergonha-me. Como pessoa formada em Jornalismo, como leitora e acima de tudo, como humana. 


É simples e claro. Não é preciso ser um génio para perceber nem é preciso ter um Q.I. acima da média para ler ali, naquele título, preconceito. Racismo. Daquele tão tipicamente português, disfarçado com um elogio. Como quem diz "que amorosos, os ciganos. Ofereceram cabazes a quem precisava". Como quem quer sublinhar que afinal eles não são só os subsídios e os maus modos. Como quem quer mostrar que eles não são só os putos com navalhas que roubam os meninos brancos na escola. Como quando se enaltece o preto que até é inteligente, vejam lá! Como se fosse surpreendente observar algo normal, bom ou nobre em alguém cuja tez não é clara. Como se a quantidade de melanina na pele dissesse alguma coisa sobre o ser que está debaixo dela.

E porque é que o Jornalista (com J maiúsculo) tem responsabilidades acrescidas neste campo? Porque o seu trabalho é serviço público. Não interessa quem é a sua entidade patronal: o seu dever é informar de forma isenta, séria e livre de discriminação. 

Cabe-lhe incutir na sociedade, através do produto do seu trabalho, noções básicas pelas quais se deve reger. E aqui, no caso que a imagem demonstra, houve alguém que não merece ser designado como Jornalista, que despoletou com este título comentários como "eu até conheço ciganos que são boas pessoas". 

Se fosse um grupo de pessoas brancas, filhos de brancos, de classe média, com licenciaturas e empregos das nove às cinco, como seria o título desta notícia?

E se vierem comentar este post para me dizer que não, que o nosso país não é racista, então leiam isto primeiro. Depois falamos.

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